23 outubro 2010

A casa do lago

                   Na minha doce infância, que os dias não trazem mais, eu me lembro de uma coisa em especial, a única coisa que me fazia sonhar. O lago em frente à minha casa. Ainda continua lá, mais antigo e velhinho do que antes. Eu costumava ir lá todas as tarde, no pôr do sol principalmente. Deitava no gramado enorme, que eu sempre cuidava com carinho e que estava sempre bem verdinho e passava horas observando o reflexo do sol no lago. As poucas árvores, algumas bem grandes, todas tinham folhas com cores diferentes. Umas verdes, umas marrons, outras amarelas. Ao pôr do sol, era maravilhoso. Ficava hipnotizada. As horas passavam e eu nem percebia. Era como um refúgio e o melhor de tudo era que eu me permitia sorrir.


                    Eu gostava particularmente de observar os pequenos peixes, que pulavam a toda hora por ali. Pedia ao papai para me ajudar a cuidar deles. Ele sempre me incentivava. Tinha uns dourados, uns cinzas, outros bem branquinhos. Um peixe de cada cor que eu imaginava. Quando pulavam, a água respingava em mim e eu chorava de felicidade. Agora, ao lembrar, choro de saudades, ao mesmo tempo que sorrio ao lembrar da época de nós dois juntos naquele lago. Meu mundo aos 7 anos. Até a hora de voltar para casa, a hora da solidão. A hora que mamãe chamava para dentro, interrompendo meus sonhos, logo depois que papai partiu.
                    E eu caminhava de volta para casa, feliz comigo mesma e em paz, já com saudade do meu pequeno lar. Ele não ficava com o mesmo encanto à noite. Eu aqui, eles lá.
Mas eu não dizia, àquela época, que o mundo era um lugar feio. Pelo contrário, ele sorria para mim cada vez que eu cantava. Eu beirava a esquina da felicidade, mas eu não podia dizer isso a mais ninguém, nem mesmo ao peixes, senão eles iriam embora para longe de mim. Mais uma vez.

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