27 agosto 2013

Ensaio sobre a vida

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                   "Passa, passa; desabafa. Segue sem rumo nem direção, perdida em uma vida em perigo e em uma rua sem coração. Segue forte, inconstante e incerta. Forte, inconstante e incerta. E amanheceu um dia que o sol fechou os olhos para o mundo, desencantou dos céus. Eis que surge um problema; e o problema é viver. Cada passo, cada dia, cada nova circunstância repousa em meus ombros leves e quebrados e deixam-se ser. Tudo encaixo, somo, incorporo; bem dizia aquele Oswald de Andrade. Para sempre."

               Faz tempo que procuro uma razão; porque é dos humanos procurarem uma. Razão para entender aquilo que te inquieta; razão para te mover por aquilo que te cerca. Mas eu a procuro na simplicidade de saber que a minha felicidade se acaba ao final de todo dia. É um mal pior que eu mesma; é a necessidade de convivência, a necessidade de conveniência, de pertencimento, e a falta disso me faz estranhar até o céu. A sensação é a solidão, é o que me mostra o quão pequeno e atroz eu sou diante de uma inconformidade de pensamentos frios, tristes, inacabados, inconformados. E ninguém mostra o contrário, ninguém para dizer que o aquilo tudo é mais um monte de besteiras incompatíveis. Vazio; é pensar que, de alguns que eu não sei mais quem são, eu pensava que sabia quem eram. Vazio; é a sensação de perda, de desapontamento, da inutilidade. Vazio é não mais pertencer a um lugar ao qual eu pensava pertencer. Entretanto, nem por isso sou menos capaz de definir essa sensação, de analisá-la, ou mesmo de ter dela uma percepção integral. Reconheci-a num dia de agonia, onde deveriam haver pessoas a me esperar. Nenhuma delas estava lá.

                  "Tudo o que vemos ou parecemos não passa de um sonho dentro de um sonho" (Edgar Allan Poe). É a meia-noite que apavora, quando estou só na escuridão infinita, sei que tenho um alicerce para me apoiar, um choro para celebrar. Dói tanto, tanto. Dói como uma alma esfaqueada e o sangue a gotejar lentamente pelo chão frio. Dói como a flor morrendo no jardim vivo. Dói como a mente sã de um corpo hostil. É a morte prematura de um ser, a morte prematura da sua felicidade. O amor dói; a alma, antes tão límpida, tão branca, corrói e se perde. O sorriso dói quando a mente libera venenos por um corpo podre. É também podre o cheiro desse amor. Quer perpetuar-se por tempos imperpétuos. O coração dói, a fonte de todo um amor e todo sorriso já amado deste mundo. Dias mortos... alguns vão embora, alguns passam pela porta para um adeus, alguns permanecem na memória para jamais serem esquecidos, para sempre lembrados.
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