31 janeiro 2011

Ser humano

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Como seres humanos, somos humanos. Alguns podem não saber usar ou identificar tal dom, mas é fato que fomos feitos assim. A cada dia que passa, é possível descobrir algo novo, ainda que seja só em si, e diante de tal descoberta, vem uma pequena dose de orgulho. Eu, como ser humano, nunca fui orgulhosa de nada que valesse a pena na vida. Mas a vida às vezes nos prega peças.
           Eu nunca acreditei muito em felicidade. Pelo menos, não em felicidade completa. Não sou infeliz; digo, em alto e bom som, que sou feliz com a vida que tenho, mas não gosto de me enganar; sei que me falta algo, e tenho medo que esse algo não apareça. Mas, pouco tempo atrás, descobri a felicidade no lugar mais improvável do mundo, bem longe de todos que me fazem feliz. Entretanto, durou muito pouco. Logo que eu percebi, já tinha acabado. Esse é um aspecto interessante da felicidade: a falsa aparência de longa duração. E foi o que me aconteceu. Não por completo; ainda hoje lembro de tudo como se fosse ontem e lembro exatamente como me senti e o que senti. O estranho é que, como ser humano, ainda me orgulho disso.

Se a felicidade, um aspecto tão brilhante e essencial da vida, é algo tão difícil de encontrar, o que nos faz continuar vivendo? Eu, particularmente, admito que muitas vezes já quis desistir de tudo. Mas, depois de passar por poucas e boas, acredito ter chegado a uma resposta sincera. A busca constante à felicidade; esse é o segredo. Saber que em algum lugar a felicidade nos espera nos faz caminhar continuamente, às vezes durante toda a vida. Ainda hoje não sei se posso dizer, sem medo, que sou feliz por completo ou, pelo menos, feliz o bastante, mas como ser humano, me orgulho de descobrir novos caminhos e continuar caminhando sempre, sem medo de errar ou sofrer. Ou ser feliz.

28 janeiro 2011

Eternidade

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Cada minuto que passa, é apenas mais um minuto;
é irrelevante cada passo do horizonte astuto;
eu já não sinto mais o aroma das flores do jardim;
e nada dura mais que a eterna razão de seu fim.

27 janeiro 2011

Pelo prazer de viver

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Quando ela acorda, um belo dia - porque é sempre um belo dia - não esperava saber o que ia acontecer. Nunca acordara sabendo, assim como não dormia imaginando. Esse pequeno laço de similaridade entre sonho e realidade, que poucos viam, ela via com clareza: a aparência. Muitas das vezes, já encontrou-se numa situação tão inacreditável quanto o sol nascer quadrado; coisas maravilhosas, cenas esplêndidas e momentos intensos. Como em sonho. Apenas uma coisa, porém, ela havia aprendido nos seus momentos de ingenuidade, nos momentos que perdera tentando entender essas duas realidades: existem situações em que apenas viver já é um sonho. Mas essa vida, ela que é o retrato falado do mundo, do que se vive, já não enchia o seu mundo. Perdê-la não era uma opção, entretanto, condizia com os fatos atuais. Assim como o sonho e tão verdadeiro quanto a realidade. Quando ela acordara, um belo dia, porque era sempre um belo dia, já não era mais sonho. Era realidade. Então ela dormia novamente e não ficava imaginando o que ia acontecer amanhã, quando acordasse. Nem esperava saber quando acordase, apenas pelo prazer de viver.

Então, a dor

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                   Cansados, doentes, tristes. Esses rostos estavam por todos os lados. Desalmados e desacreditados na vida. Pensamentos de incredulidade estavam perdidos naquelas mentes e tais pensamentos refletiam em suas faces pálidas por impulso. Os olhos falavam por si mesmos; a partir daquele momento, as lágrimas fluíam por vontade própria, descrentes, mas presos a um fiapo de esperança de nada daquilo ser verdade, apenas um engano. Até que todas as noites, enquanto rezam, lembram-se que aquilo não tem mais volta. E é quando a incredulidade volta ao seu lugar de início.
                    A vida nos passa despercebida, enquanto teimamos, de olhos fechados, andar por cima dela até o momento que decidimos abri-los, mas já é tarde demais. Quando cada ser humano decide abrir verdadeiramente os olhos, a vida já se foi, de forma calma e graciosa, mas que viveu como alguém que nunca sentiu dor e levou a quem o perdeu.
                      A morte não é um empecilho. Ela não é mais que um sentimento. Um sentimento forte e duro o bastante para levar a dor a se estabelecer por muito tempo. Pode ser apagado e revivido como poucas coisas na vida, mas quanto mais evitarmos, pior, pois nunca teremos sentido.
(Renata Fonseca)

21 janeiro 2011

Fora de casa

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                  Lá fora, venta e faz frio. Um frio inebriante. A cidade anda com seus próprios pés. Os pássaros voam em direção ao sol, escondido entre as nuvens cinzas do horizonte. A chuva começa e estou lá; sinto cada gota, honesta, pesada e fria. Me pego pensando o que aconteceu. O dia passou e eu fiquei parada no mesmo lugar.
                 De alguma forma, o cenário muda e tudo parece ainda mais sombrio. De repente, já não é mais dia. A noite caiu, as estrelas tentam ofuscar sua luz mas parecem sem energia. Está escuro demais para enxergar qualquer coisa, o frio aumenta e venta mais forte. Já não sinto mais calor; o calor do meu corpo, o calor da cidade ou das pessoas, esvaiu-se. Então, eu respiro, para continuar viva. Mas o ar não passa. Começo a acreditar que estou morta.
                   Muitas coisas se passam pela minha cabeça e nenhuma delas parece ter sentido. É difícil dizer o que escuto; se é a densa mata ao meu redor ou palpitamento acelerado do meu coração. Ele me faz lembrar das coisas que sofri. Porém, eu nunca soube o que senti. Ou, pelo menos, nunca quis admitir. É díficil dizer com que exatidão eu fui retirada do meu próprio corpo.

17 janeiro 2011

Trovoada

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Após uma tempestade, é provável que nada fique igual. As pessoas ou o mundo, nada jamais retorna ao que foi. Muito pode mudar, muito pode acabar. Eu não fiquei igual; eu morri.

            
                         Mediante os pequenos pedaços de vidro espalhados pelo chão, imagem de um mundo devastado que só queria o amanhã. Eu, como qualquer outro, não queria enxergar nada. Só queria correr. Na euforia do momento, escorreguei e não percebi, ou não queria perceber, o que a vida estava tentando me mostrar. Eu deixei muito para trás. Uma vida inteira ou fragmentos dela, mas ainda sim uma vida com a qual ainda tinha muito a aprender. Queria apenas correr e, se pudesse, voar. Melhor mesmo seria se eu ainda pudesse sonhar.
                   Os meus sonhos fluíam através de mim. Incentivaram-me a viver por muito tempo, ainda que eu nunca tenha sido muito boa em interpretá-los ou realizá-los. Mas o mundo no qual cresci era hostil e perdido e a verdade é que a vontade que eu tinha era de simplesmente nunca ter nascido. Com o tempo, deixei de sonhar; já não me trazia esperança, apenas ilusão, então apenas desisti. Durante muito tempo, acreditei friamente não ter mais nada a sentir dentro de mim. Mas muito haviam me dito algo como nunca ter me apaixonado. Era uma palavra muito estranha. Eu lhes perguntava o que era aquilo e o que via era a incredulidade da mais horrenda em seu olhos. Uma bobagem qualquer, pensava eu, até acabar por senti-la. Logo veio a primeira gota da tempestade, e a água encaminhou o resto dos meus dias para o ralo.
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