02 abril 2011

Memórias de alguém que não viveu


                  "No universo das imperfeições, o qual acabei me descobrindo, esse mundo o qual eu chamo de mundo, eu tinha apenas um único defeito desfavorável e desimportante a ponto de ser notado: meu passado. Vi pouco do muito. As coisas passavam e eu não percebia. Cada dia, apenas um dia.
                   No dia em que me caiu a ficha de que a vida chegava ao fim, a única coisa que percebi foi que não havia história alguma para contar. Pouco corri atrás, pouco sorri, pouco chorei, tampouco sofri por amor. Tentava lembrar de que forma havia construído minha vida, mas não houveram lembranças que pudessem explicar. O gosto de viver não senti. Os sentimentos, estes não fluíram. De tempos em tempos, acostumada eu estava com o modo como as coisas andavam, de uma forma estranhamente perturbadora. Divagavam, retrocediam, desaceleravam. Algumas coisas eu já nem tentava mais entender.
                   Muitas coisas desta vida eu perdi; coisas únicas, que fariam uma enorme diferença de um jeito simples. Arrependimento é uma palavra já um tanto quanto antiquada; o que eu sinto mesmo é algo devastador, algo tão grande quanto surpreendente. Esse meu defeituoso traço agora é persistente, e ainda será após os fim dos meus dias. Esses que agora só me resta esperar."

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